Lisboa: ainda e sempre o loteamento de Marvila
Demita-se, Senhora Secretária de Estado dos Transportes
Carta aberta à Dra. Ana Paula Vitorino
Ex.ma Senhora
Acabo de ler no «site» da Agência Financeira que V. Ex.cia aprovou ontem ao princípio da tarde uma medida cautelar que impede a CML de aprovar loteamentos ou urbanizações para «a faixa da Cidade de Lisboa entre a Gare do Oriente e o Braço de Prata / Beato» «sem parecer prévio favorável da RAVE» - isto até que fique definido o «espaço canal» do TGV, para falar depressa.
Mais.
V. Ex.cia disse que a atitude da CML em aprovar ontem de manhã um loteamento nesta zona, depois de ter pedido solidariedade institucional à CML, era uma (e cito) «quebra de solidariedade».
Mais ainda.
Dizem-me que a Concelhia de Lisboa do PS entende que Carmona Rodrigues deve demitir a sua vereadora do Urbanismo por ter colocado à aprovação este loteamento.
Posto isto, gostaria de lhe comunicar a seguinte meia dúzia de raciocínios:
1º - Acho que o PSD na Câmara de Lisboa foi rápido, ostensivamente rápido, a agir em defesa do interesse privado de um promotor conhecido;
2º - Acho, de um ponto de vista da análise política, que o PSD se poderá demitir todo por muitas razões, e não apenas por estas especificamente;
3º - Acho que V. Ex.cia foi muito lenta, ostensivamente lenta, a agir em defesa do interesse público;
4º - Mais parece a quem esteja atento que V. Ex.cia queria este loteamento aprovado, seja para criar mais dificuldades à CML seja por razões de lentidão dos seus serviços. O facto é que quando perdeu tempo a pedir solidariedade mais valia ter logo aprovado as medidas que agora diz que tomou;
5º - Se o PS acha que a vereadora do Urbanismo se deve demitir ou ser demitida, então, por maioria de razão deve achar que V. Ex.cia se deve demitir do seu cargo de Secretária de Estado dos Transportes. Ou há aqui dois pesos e duas medidas?;
6º e último – Se desta situação de relaxe e duplo erro na defesa do interesse público resultar, como diz a Comunicação Social qualquer direito de indemnização por parte do Estado ao promotor privado, quem entende V. Ex.cia que deve pagá-lo? A Câmara de Lisboa? Os eleitos da CML que aprovaram? O Governo que se atrasou nas medidas preventivas que afinal podia ter publicado três horas antes? Ou V. Ex.cia que manifestamente se atrasou a publicá-las?
Carta aberta à Dra. Ana Paula Vitorino
Ex.ma Senhora
Acabo de ler no «site» da Agência Financeira que V. Ex.cia aprovou ontem ao princípio da tarde uma medida cautelar que impede a CML de aprovar loteamentos ou urbanizações para «a faixa da Cidade de Lisboa entre a Gare do Oriente e o Braço de Prata / Beato» «sem parecer prévio favorável da RAVE» - isto até que fique definido o «espaço canal» do TGV, para falar depressa.
Mais.
V. Ex.cia disse que a atitude da CML em aprovar ontem de manhã um loteamento nesta zona, depois de ter pedido solidariedade institucional à CML, era uma (e cito) «quebra de solidariedade».
Mais ainda.
Dizem-me que a Concelhia de Lisboa do PS entende que Carmona Rodrigues deve demitir a sua vereadora do Urbanismo por ter colocado à aprovação este loteamento.
Posto isto, gostaria de lhe comunicar a seguinte meia dúzia de raciocínios:
1º - Acho que o PSD na Câmara de Lisboa foi rápido, ostensivamente rápido, a agir em defesa do interesse privado de um promotor conhecido;
2º - Acho, de um ponto de vista da análise política, que o PSD se poderá demitir todo por muitas razões, e não apenas por estas especificamente;
3º - Acho que V. Ex.cia foi muito lenta, ostensivamente lenta, a agir em defesa do interesse público;
4º - Mais parece a quem esteja atento que V. Ex.cia queria este loteamento aprovado, seja para criar mais dificuldades à CML seja por razões de lentidão dos seus serviços. O facto é que quando perdeu tempo a pedir solidariedade mais valia ter logo aprovado as medidas que agora diz que tomou;
5º - Se o PS acha que a vereadora do Urbanismo se deve demitir ou ser demitida, então, por maioria de razão deve achar que V. Ex.cia se deve demitir do seu cargo de Secretária de Estado dos Transportes. Ou há aqui dois pesos e duas medidas?;
6º e último – Se desta situação de relaxe e duplo erro na defesa do interesse público resultar, como diz a Comunicação Social qualquer direito de indemnização por parte do Estado ao promotor privado, quem entende V. Ex.cia que deve pagá-lo? A Câmara de Lisboa? Os eleitos da CML que aprovaram? O Governo que se atrasou nas medidas preventivas que afinal podia ter publicado três horas antes? Ou V. Ex.cia que manifestamente se atrasou a publicá-las?
Repare que se V. Ex.cia ontem tivesse determinado essas medidas três horas antes, a tempo de impedir a votação na CML, eu estria aqui agora a elogiar a sua defesa do interesse público. Assim, não. Nem pense...
(Infografia «DN»)
José Carlos Mendes
José Carlos Mendes
1 Comments:
JÁ AGORA, e como o assunto é TGV, parece-me interessante divulgar um artigo publicado no «Jornal de Negócios» de 20 Nov 06:
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TGV ou Jumbo para Badajós?
Jack Soifer
Em recente Congresso, a corporação ferroviária insistiu no TGV para Madrid, sem mais estudos. Mostraram como ele uniu cidades em França e Alemanha; troços de 1000 km no meio da UE.
Países pequenos e periféricos como Finlândia, Dinamarca, Suécia e Irlanda, todos com alto PIB "per capita", preferiram o Alfa.
O TGV a Madrid quer transportar 600 a 800 passageiros a uma média de 175 km/h. Leva no mundo real 17 minutos para parar, embarcar e acelerar até 300, usando muita energia. Até Madrid só três paragens são económicas e assim não há integração com o interior. O Alfa a Madrid custaria só 10% do TGV; projecto, carris, sinalização, carruagens, tudo seria feito por cá, ao contrário do TGV onde só daríamos parte da mão-de-obra, pedra e cimento. O Alfa é alta velocidade e leva só mais 20 minutos, mas pára em seis, não só três cidades.
Um orador acusou estudos de economicistas: ‘A tecnologia é para usar’. Não disse que é o contribuinte que não a utiliza quem paga. Na Suécia, o Tribunal de Contas denunciou intransparências e derrapagens de 60% jamais antes vistas, no único micro-TGV lá. Os utentes são a metade do previsto, pois limusinas com 4 a 6 pax cobram menos. As empreiteiras do PPP exigem manter o lucro e o governo as subsidia. Quatro milhões de contribuintes pagam 50€/ano cada, para dez mil privilegiados usarem o TGV. Este fiasco ajudou a queda do governo PS.
Em Espanha, o governo subsidia a RAVE com mil milhões. É provável que aqui cada um de 4 milhões de contribuintes pague 80€/ano nas próximas décadas, para 40 mil TGVistas irem a Badajós. Poucos irão directo a Madrid no TGV. Porque pagar 150€ por 4h, se a "low cost" faz por 70€ em 3h centro a centro?
Carga rápida é boa logística. Na Suécia, 2000T fazem 800 km numa noite, ao máximo de 90 km/h em cada comboio; TGV não ajuda.
Hoje terroristas já não atacam aviões. Um ataque ao TGV é fácil e com muito mais impacto político e económico que ao Alfa. A segurança custará muito mais que o previsto hoje – tudo importado.
Cada tecnologia tem uma aplicação ideal. Valorizemos o que temos e fazemos! Não estamos no Centro da UE, não temos 1000 km nem 80 milhões de habitantes a unir. Uma linha mista, que nos custe um Alfa para seis cidades, sim! Porto a Vigo de Alfa, para já! Mas quem pagará um jumbo para Badajós?
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