quarta-feira, novembro 22, 2006

Museu de Arte Popular (*) vira Museu do Mar do Linguado, perdão, da Língua. Como disse?

Lembro-me que nos anos imediatamente a seguir ao 25 de Abril os apagões eram frequentes, os cortes no abastecimento da água, também. Fez-se bicha para o leite e para o pão, e já se falava que os talhos vendiam cavalo por vaca. Restringiu-se a 20 contos o montante que cada um podia levar consigo para o estrangeiro. Houve ocupações selvagens, barricadas, bombas, cinturas industriais a lutar contra mocas de Rio Maior, e muito mais.

Do que não me consigo lembrar é de nenhum ministro, secretário ou sub-secretário da cultura a querer demolir um museu! Mais recentemente tinha lido que a ex-vereação da CML quisera "desclassificar" o Capitólio a fim de melhor facilitar o "projecto" de Gehry, mas desta vez o caso é escandaloso: trata-se de destruição deliberada de património de todos, a ser despachada por ordem ministerial, ao melhor estilo Ceaucescu.

Começou-se por dizer que o edifício do museu (que está em vias de classificação pelo IPPAR desde 1991 - o que na prática quer dizer tudo, ou nada) era feito de cartão contraplacado. Depois, que só o espólio e os painéis tinham importância. Agora nem isso, já que soubemos, anteontem, que pretendem entaipar (e matar) os frescos de Carlos Botelho!!!

Demolir-se este museu significa destruir-se o último exemplar da Exposição do Mundo Português, que, quer se queira quer não, foi a maior exposição que alguma vez organizámos nesta terra. Pena é que ainda haja quem não saiba lidar com o passado.

Ainda por cima, sabendo-se da existência de uma petição contra este projecto, cujos mais de 1.100 assinantes parecem ser considerados como mentecaptos pela Srª Ministra.

E sabendo-se que isso de "Mar da Língua Portuguesa" é pouco mais que nada. Possivelmente um imenso powerpoint, com efeitos especiais digitalizados. A MC fazia um melhor serviço à cultura se recuperasse de vez o Museu de Arte Popular (lembro à Srª Ministra que o IPPAR tem andado a recuperá-lo...), o animasse e promovesse. Sem complexos.

Paulo Ferrero

(*) Descrição da ex-DGEMN

"Protecção
Em vias de classificação; incluído na Zona Especial de Protecção do Mosteiro de Santa Maria de Belém (v. PT031106320005)

Enquadramento
Urbano, destacado, isolado, implantado em plataforma costeira, junto ao Rio Tejo entre as docas de Belém e de Bom Sucesso. A N., separado pela estrada e linha férrea de Cascais, o Centro Cultural de Belém (v. PT031106320402). A O., os edifícios da Defesa Marítima e a E. o Espelho de Água (v. PT03110320601) e o Padrão dos Descobrimentos (v. PT031106320600).

Descrição
De planta irregular, em L, composta pela articulação de vários corpos de planta rectangular e quadrada, o edifício apresenta volumetria escalonada, sendo a cobertura efectuada por telhados a 4 águas e em terraço. A organização dos volumes acentua a sua distribuição horizontal, e caracteriza-se genericamente por corpos de duplo pé direito, com caixa murária em reboco pintado com roda-pé em tijolo, e abertura a ritmo irregular de janelões estreitos rectangulares, dispostos em agrupamentos. O alçado principal a N. é constituído por 5 corpos interligados entre si. Distingue-se a O., corpo mais elevado de secção quadrada, que se assemelha a uma torre sineira, apresentando, a preceder a cobertura, 1 janela de peito por alçado. A eixo e num corpo reentrante relativamente aos 2 corpos que o ladeiam (situados no mesmo plano), identifica-se o acesso principal ao interior do edifício: 3 arcos de volta perfeita, perfurados ao nível do piso térreo por vãos de verga recta, e preenchidos superiormente por material cerâmico disposto de forma padronal. Ao corpo intermédio a O., flanqueado pelo acesso e pela torre, adossa-lhe um corpo rectangular que actua como pátio interior; localizado num plano avançado relativamente aos corpos descritos, podem observar-se alçados com abertura de arcaria em volta perfeita. Identifica-se ainda na parte posterior do corpo a E., caixa murária sobrelevada, revestida de material cerâmico, correspondente a um outro módulo do edifício. Nos alçados laterais, destaca-se a integração de painéis escultóricos com representações em baixo e médio relevo de várias actividades rurais. Com acesso através de átrio amplo, os espaços definidos pela volumetria exterior, articulam-se entre si no interior, através de corredores, e correspondem a diferentes zonas temáticas do Museu, em cuja componente ornamental se destacam obras de pintura e escultura aplicadas à arquitectura da autoria de Fred Kradolfer, D. Tomaz de Melo (Tom), Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmérico Nunes, José Rocha, Estrela Faria, Paulo Ferreira e Eduardo Anahory.

Arquitecto Construtor Autor
ARQUITECTOS: António Maria Veloso Reis Camelo (1899 - 1985) e João Simões (n. 1908) / Arq. Jorge de Almeida Segurado ( 1898-1990 ), adaptação a museu anos 40; ESCULTORES / PINTORES: Fred Kradolfer, D. Tomaz de Melo (Tom), Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmérico Nunes, José Rocha, Estrela Faria, Paulo Ferreira e Eduardo Anahory.

Cronologia
1940 - inauguração do edifício integrado no conjunto construído para a Exposição do Mundo Português de 1940, integrando a Secção da Vida Popular, organizada pelo Secretariado da Propaganda Nacional, aquela Secção de Vida Popular possuía 3 pavilhões ligados entre si recorrendo ao folclore como veículo do nacionalismo português, considerando os brandos costumes eo Estado Novo como factores de paz e refúgio; 1941- concurso público lançado pela Comissão Administrativa do Plano de Obras da Praça do Império e da Zona Marginal de Belém, para adjudicação da empreitada de adaptação e modificação dos Pavilhões da Secção Etnográfica Metropolitana a Museu de Arte Popular, sendo lançadas sucessivas empreitadas; oacervo do museu, básicamente do séc.20, baseia-se na recolha de peças para a Exposição de Arte Popular Portuguesa, apresentada em Genebra, em 1935; 1948 - inauguração do Museu após uma adaptação às novas exigências funcionais, com algumas alterações construtivas, em particular nas fundações e paredes exteriores, considerando 5 salas representando as regiões de Entre-Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beiras, Estremadura, Alentejo, Ribatejo e Algarve; 1970 (década de) - desse conjunto de edifícios, também designados por secção Etnográfica Metropolitana foram demolidos corpos a Poente onde se inseria a torre farol, que subsiste ainda hoje a SW, isolada; 1991 - por despacho datado de 12 de Dezembro foi determinada a abertura do processo de classificação do imóvel; 1995 - inauguração da Sala de Exposições Temporárias.

Tipologia
Arquitectura civil educativa e cultural, do Estado Novo - pavilhão de exposição / museu.

Características Particulares
De volumetria agarrada ao terreno possui uma gramática arquitectónica e decorativa de influência historicista e popular com grande unidade e simplicidade na composição das suas fachadas. O edifício do Museu constitui hoje um dos objectos memória e simbólicos da Exposição do Mundo Português de 1940, onde como Pavilhão Expositor de carácter efémero e cenográfico integrava a Secção de Vida Popular. As obras a que foi sujeito para museu, não alteraram o seu carácter.

Dados Técnicos
Paredes autoportantes

Materiais
Alvenaria mista ( tijolo na sua maioria ), reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado

Intervenção Realizada
DGEMN: 1941/1948 - estudo de consolidação; substituição das fundações das paredes com 0.40x0.50m por alvenaria de pedra rija; no solo uso complementar de estacas betonadas com comprimento médio de 3.00 m: 2 estacas na periferia e no eixo da fundação das paredes, 4 estacas nos cunhais das paredes, 1 estaca intermédia no eixo da fundação das paredes com 5.00m de distância entre montantes e intervenção ao nível das paredes exteriores, para remodelação para a nova função; 1950, Janeiro - Reparação do tecto e telhados do claustro: levantamento da cobertura, substituição dos madeiramentos, arranjo dos beirados e tectos, nova cobertura em telha portuguesa, tectos de madeira e estafe e pintura a óleo das madeiras; 1985 - reparação da cobertura e dos esgotos na zona denominada dos claustros; 1995 - obras de recuperação; inauguração de uma sala para exposições temporárias; 2000 / 2003 - Projecto de reabilitação - 1º fase ( MAP - salas das Beiras, Ribatejo, Estremadura e Alentejo ): demolição das esteiras, instalação da rede eléctrica, protecção de pinturas murais e do espólio museológico; renovação das coberturas; drenagem dos pavimentos térreos, drenagem periférica, pré-instalação de redes eléctricas e de detecção de segurança, reabilitação das instalações sanitárias; Aplicação de tijoleira, recuperação e tratamento de paredes; recuperação das carpintarias das escadas e galeria; Protecção de pinturas murais nas salas Algarve, Pátio, Trás-os-Montes e Entre-Douro e Minho; Acondicionamento e transporte das peças museológicas das Salas do Átrio, Trás-os-Montes, Entre- Douro e Minho para as Salas das Beiras e Alentejo; Recuperação de vãos interiores e exteriores ( portas e janelas); recuperação de gradeamentos ( exteriores ); Restauro de equipamento de expositores ( madeira, vidros ); colocação de todo o equipamento sanitário; colocação de estores interiores tipo sol-screen; pintura de paredes interiores; instalação de rede de segurança ( Incêndio e Introsão ); 2004, Setembro - Projecto de Reabilitação - 2ª fase (Espaço da Recepção, Salas Entre-Douro e Minho, Trás-os-Montes, dos Carros e do Algarve): Reabilitação e recuperação das coberturas e suas estruturas correspondentes aos espaços da Recepção e das salas de Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Algarve e dos Carros, optando-se por painéis sandwich de estrutura semelhante à cobertura jà reabilitada, contemplando a execução de caleiras, o capeamento das empenas e dos muretes a chapa de zinco nº 12 com juntas agrafadas e a colocação de tubos de queda das águas pluviais e respectivos capitéis em cobre, com secção de 80x120mm, em cor natural, que se tornará acastanhada com o tempo, e mangas protectoras até à altura dos socos das fachadas; execução de escada interior em aço galvanizado, de acesso às coberturas pela Torre, e de 5 escadas exteriores de articulação e acesso entre as coberturas das diversas salas, do mesmo material; defenição das grelhas metálicas, alçapões, guarda pés e guardas de protecção laterais dos passadiços do Tipo 1 e 2, de visita aos plenos da cobertura, do projecto de estruturas; execução de uma rede de Iluminação e de detecção de incêndios junto à cobertura de apoio ao respectivo pleno ( em fase posterior será integrada uma 2º rede nos tectosn falsos ); construção provisória de um túnel de acesso às respectivas instalações devidamente protegido; potecção dos fescos nas Salas da Recpeção e do Algarve de modo semelhante ao executado na 1ª fase das obras; protecção do mobiliário fixo nas Salas de Recepção e Entre-Douro-e-Minho, de modo semelhante ao executado na 1ª fase das obras
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1 Comments:

At 5:25 da tarde, Blogger Torquato da Luz said...

Acho vergonhoso o que se está a passar.
Assinei a petição, que a ministra, pelos vistos, olimpicamente ignora.
Urge impedir, por todos os meios, que a loucura se concretize.
Vamos a isso?

 

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