Esta 2ª Feira, o Capitólio comemora 75 anos!
E para os comemorar, a Cinemateca Portuguesa, em colaboração com os "Cidadãos pelo Capitólio", vai exibir o filme THE HARDER THEY FALL (A Queda de um Corpo) de 1956 realizado por Mark Robson com Humphrey Bogart e Rod Steiger. O filme estreou no Capitólio a 19 de Novembro de 1956.
O Capitólio, projectado em 1925 pelo Arquitecto Luís Cristino da Silva é considerado a primeira grande obra do Movimento Moderno em Portugal, foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1983 e integra, desde 21 de Junho de 2005, a Lista World Monuments Watch-100 Most Endangered Sites do World Monuments Fund.
Apesar do seu valor patrimonial, o edifício encontra-se devoluto e em processo de degradação acelerada, como toda a gente sabe. Inclusive, na anterior vereação, a Vereadora Napoleão quis desclassificá-lo (!) para dar maior rapidez ao "projecto" Gehry. Apesar de o filme não ser dos melhores que passaram pelo Capitólio, vou tentar ir.
Paulo Ferrero
1 Comments:
Naturalmente, aqui ficam os parabéns à Cinemateca e, claro, os parabéns ao movimento de defesa do Capitólio, ao decidirem divulgar junto do público um pouco do historial deste longo e atribulado processo, inseparável dessa narrativa interminável, que dá pelo nome de Parque Mayer, um teatro de revista tão trágico como cómico, passível de se tornar num ‘case study’ da demagogia política – pelas promessas e mais promessas, vindas de diferentes quadrantes, varrendo o chamado bloco central, tendo sido hilariante por ex.º o testemunho de Bennard da Costa acerca do(s) anúncio(s) de acordos, neste caso concreto, da criação de um Museu do Cinema, apenas firmados...na imaginação dos políticos e, para surpresa do visado, descaradamente anunciados com aquela certeza e convicção que só alguns conseguem – ou da consecutiva delapidação do património da cidade de Lisboa que assim vai perdendo as suas grandes salas de espectáculos, os seus locais míticos, que vão caindo, ou se vão adulterando, apesar de constituírem a memória colectiva de uma geração, os pólos de atractividade, que permitiam a tão desejada animação urbana para além dos horários diurnos.
Como seria de esperar, a escolha do filme, que visou comemorar os 75 anos do Capitólio (inaugurado em 1931) não teve nada inocente...muito pelo contrário, pois pretendeu de forma quase maquiavélica, sugerir...um panorama das forças e teias complexas que levaram a este estado de coisas, explicando indirectamente, as fragilidades, as pressões e contradições que levam-nos a baixar os braços, a tomar como aceitável o inaceitável...o filme chama-se ‘The Harder they Fall’, de 1956, título por si só sintomático, pleno de conotações, registando o último (no more comments ; ) papel de Humphrey Bogart, protagonizando o papel de um jornalista até então respeitável e que, num momento de maior vulnerabilidade, acentuado pelo motivo do fecho do jornal onde trabalhava, se deixa lentamente levar por um conluio, ser a personagem principal de uma farsa, tornando-se numa desilusão para todos os seus próximos e para si próprio, ao encarnar o rosto de uma campanha fraudulenta que especula com o lançamento de um pugilista, um pseudo-campeão, à custa de muita publicidade (de ser tão possível vendê-lo como um qualquer sabonete...) das vitórias conseguidas nos bastidores...
Sobre o Capitólio em si, da questão da sua recuperação, de se ir ou não ainda a tempo, há que se fazer uma análise aberta e independente, multi-critério que leve, eventualmente a tomar as decisões certas, num exercício que se supõe livre das pressões dos tais jogos de bastidores, de interesses económicos e manipulações políticas;
O edifício, justifica plenamente o seu valor patrimonial, não só pelo facto de estar classificado, mas também por ter sido umas das melhores obras de Cristino da Silva (que na mesma sessão, mereceu a exibição de um pequeno documentário sobre a vida e obra), talvez aquela que melhor correspondia aos ideais do seu tempo, à corrente estética do Modernismo, ao advento de novos materiais, caso das estruturas em...betão armado! Crê-se que esta terá sido uma das primeiras obras feitas em Portigal usando essa inovadora tecnologia, que viria algumas décadas mais tarde, a banalizar-se, tal como sucederia com a sua famosa escada rolante, durante muito tempo única no país, e que por si só, justificava uma ida ao cinema;
No entanto foi-nos explicado que afinal existem dois (ou talvez três...) Capitólios: o primeiro de 1931, e um segundo de 36, resultado das obras de adaptação-ampliação, para um uso intensivo de projecção de filmes; Embora essas obras tenham sido confiadas ao mesmo autor, parece óbvio a todos, que o primeiro projecto seria bem mais interessante (tal como se pôde ver na maqueta exposta à entrada) pois correspondia a um grande salão livre de pilares interiores, para uso polivalente (café, jogo, dança, teatro, cinema...) caracterizado pelo generoso pé direito e enormes painéis envidraçados laterais –abertura em guilhotina?- bem representativos da estética moderna, que também tinha no ferro e no vidro os seus materiais de eleição; mas, surpresa maior...a cobertura em terraço do edifício seria uma das suas grandes atracções, talvez até a mais popular? naturalmente, reproduzindo o modelo ao ar-livre das primeiras projecções, associado ao facto arquitectónico de se estar num terraço, uma zona pública ampla, em plena capital das diversões, assumindo-se como outra das suas inovações, tornando-se num ponto de encontro obrigatório, num local a visitar sempre que se visitasse a cidade!
Numa futura, desejável intervenção, dever-se-á portanto ponderar muito bem qual, ou quais dos Capitólios afinal se pretende? do primeiro já se sabe que foi extraordinário, inovador em quase tudo, principalmente nos espaços e na relação com o exterior; o segundo já o foi menos e...o terceiro, o que existe, esse ainda muito menos; porque os ‘foyers’ de 36 liquidariam a transparência inicial, desvirtuando a espacialidade da sala; ou porque o ‘chapelão’ posterior (?) tipo águas inclinadas em chapa ondulada (!) assassinou de vez o espírito moderno, o referido terraço panorâmico, que porventura teria surgido enquanto evocação dos ‘decks’ dos transantlânticos
E, falar do Capitólio, é naturalmente falar do Parque Mayer...o que era e o que é! Basta ir até lá...hoje, tem-se logo à entrada, e ladeada pelas monumentais pilastras ‘déco’ do mesmo Cristino (?), as banais cancelas de um vulgar estacionamento de automóveis; Hoje, o Parque Mayer é mais um estacionamento num espaço sobrante, com um ambiente decrépito e sinistro. Se alguma vez existiu ‘glamour’ esse, extinguiu-se de vez, e não sei se é recuperável, pois o ambiente é de degradação, e espelha o pior das ocupações clandestinas, das paisagens sub-urbanas de uma qualquer ocupação clandestina, de uma qualquer Fonte da Telha!?
E mais: a própria configuração do terreno, envolvente directa e a disposição das construções que ali existem, também não ajudam nada; é verdade,, não me importaria nada de ver o primeiro Capitólio num local diferente, e com uma outra relação urbana (que não as traseiras de um teatro ou as marquises das marisqueiras...);
sim, cai o Carmo e a Trindade (!?) mas porque não considerar esta hipótese, se feita com seriedade e competência técnica, de uma intervenção, equivalente a uma transladação arqueológica?
Porque não reconstruí-lo fielmente, com todos os materiais que fosse possível recuperar, e seguindo rigorosamente a versão inicial do projecto, incluindo os grandes painéis em vidro, passíveis de abrir no Verão, ou a solução de terraço para projecção de cinema ao ar-livre, tipo drive-in pedonal!?
E, porque não na...Praça da Figueira (sempre seria melhor que repor o mercado original!) no preciso momento em que é moda animar esses espaços com as frustes projecções multimédia?
Ou, para os mais puristas, porque não na beira-rio? de Belém ao novo terminal de cruzeiros, não faltam localizações nobres e dignificantes...é que se se vai fazer o mesmo (porque o nível de degradação é uma evidência!?) a mesma operação de reconstrução, naquele mesmo local, é, desculpem...demasiada ortodoxia.
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