Lisboa
Quem manda em quê?
Profusão e confusão de poderes na Cidade
Uma das questões mais intrincadas da Cidade de Lisboa é talvez esta que parece tão simples: quem manda em quê? A quem compete a gestão do território? Vai por aí uma confusão dos diabos e acho que os poderes na Cidade estão disseminados de forma anárquica - e a CML, que devia gerir o território, ali está, impassível, como que a ver passar os comboios.
Uma pessoa vê de tudo: vem a Lisboagás ou uma empresa por ela contratada e rebenta com a calçada para reparar as tubagens. No dia seguinte chega a malta dos telefones e, se for preciso abre um buracão no mesmo sítio. E fecha. Mal, em geral. E a calçada que se lixe. Mais uns dias e a EPAL manda rebentar com mais um bocado de rua e a cena repete-se. Vai-se ali ao Terreiro do Paço e é o que é: a frente ribeirinha conspurcada, já nem se sabe por quem, mas o Metro é que paga as favas. O Governo põe e dispõe na Cidade. Cada ministério faz o que lhe apetece no «seu» território. Escolas fecham contra a vontade da CML. O Metro é um estado dentro do Estado. A ANA (aeroporto) também. A tropa, nem se fala – e instalações militares na Cidade é mato, como sabemos. Até a Carris faz e desfaz e não passa cartão à Câmara: ainda agora implementou a Rede 7 apesar do parecer negativo da CML. Outro caso gritante e sobranceiro é o da Administração do Porto de Lisboa: isso então, no que se refere à zona ribeirinha, é uma «república».
Dir-me-ão: é o preço da capitalidade. Mas bolas! Podia haver aqui um fiozinho, mesmo que ténue, de respeito pela Autarquia... ou devia a Autarquia dar-se ao respeito. Mas não. Nada. Zero.
Dou comigo muitas vezes a pensar: então mas a Câmara Municipal de Lisboa não devia preocupar-se com tudo isso? Devia. Mas parece que não se preocupa. Não se devia impor? Devia. Mas o que é facto é que não se impõe. Nem lhe ligam nenhuma. E a CML deixa. A Cidade parece uma casa grande com toda a gente a dar ordens e onde ninguém se entende. Ora, no meio desta baralhada toda o que faz a Câmara – aquela entidade que pensaria eu era a grande gestora do território? Não faz nada. Vai vendo. Vai estando. E vai também fazendo a sua parte da cena: abre um ou outro buraco ou manda empresas abrirem por ela, vai tapando com melhor ou menor arte (os calceteiros já não são o que eram e as calçadas lisboetas também não e hoje são o que são por isso mesmo).
E sobretudo: a CML parece estar ali serena e segura na Praça do Município a ver «correr o marfim»... E nem um «ai!» de lá sai.
Santa paz. Paz dos mortos.
José Carlos Mendes
Profusão e confusão de poderes na Cidade
Uma das questões mais intrincadas da Cidade de Lisboa é talvez esta que parece tão simples: quem manda em quê? A quem compete a gestão do território? Vai por aí uma confusão dos diabos e acho que os poderes na Cidade estão disseminados de forma anárquica - e a CML, que devia gerir o território, ali está, impassível, como que a ver passar os comboios.
Uma pessoa vê de tudo: vem a Lisboagás ou uma empresa por ela contratada e rebenta com a calçada para reparar as tubagens. No dia seguinte chega a malta dos telefones e, se for preciso abre um buracão no mesmo sítio. E fecha. Mal, em geral. E a calçada que se lixe. Mais uns dias e a EPAL manda rebentar com mais um bocado de rua e a cena repete-se. Vai-se ali ao Terreiro do Paço e é o que é: a frente ribeirinha conspurcada, já nem se sabe por quem, mas o Metro é que paga as favas. O Governo põe e dispõe na Cidade. Cada ministério faz o que lhe apetece no «seu» território. Escolas fecham contra a vontade da CML. O Metro é um estado dentro do Estado. A ANA (aeroporto) também. A tropa, nem se fala – e instalações militares na Cidade é mato, como sabemos. Até a Carris faz e desfaz e não passa cartão à Câmara: ainda agora implementou a Rede 7 apesar do parecer negativo da CML. Outro caso gritante e sobranceiro é o da Administração do Porto de Lisboa: isso então, no que se refere à zona ribeirinha, é uma «república».
Dir-me-ão: é o preço da capitalidade. Mas bolas! Podia haver aqui um fiozinho, mesmo que ténue, de respeito pela Autarquia... ou devia a Autarquia dar-se ao respeito. Mas não. Nada. Zero.
Dou comigo muitas vezes a pensar: então mas a Câmara Municipal de Lisboa não devia preocupar-se com tudo isso? Devia. Mas parece que não se preocupa. Não se devia impor? Devia. Mas o que é facto é que não se impõe. Nem lhe ligam nenhuma. E a CML deixa. A Cidade parece uma casa grande com toda a gente a dar ordens e onde ninguém se entende. Ora, no meio desta baralhada toda o que faz a Câmara – aquela entidade que pensaria eu era a grande gestora do território? Não faz nada. Vai vendo. Vai estando. E vai também fazendo a sua parte da cena: abre um ou outro buraco ou manda empresas abrirem por ela, vai tapando com melhor ou menor arte (os calceteiros já não são o que eram e as calçadas lisboetas também não e hoje são o que são por isso mesmo).
E sobretudo: a CML parece estar ali serena e segura na Praça do Município a ver «correr o marfim»... E nem um «ai!» de lá sai.
Santa paz. Paz dos mortos.
José Carlos Mendes
1 Comments:
Faz parte da tradição, Meu Caro.
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